O dia do livro não é uma data relevante no Brasil iletrado. Celebrada em 23 de abril, essa data foi alvo de um episódio político dos mais injuriosos contra a educação em 2024.
O Presidente da República, na véspera do dia do Livro, ao alfinetar seu ministro da economia, proferiu uma frase que, para meu assombro, nem chegou a gerar grande repercussão:
Ei-la:
O Haddad, ao invés de ler um livro, tem que perder algumas horas conversando no Senado e na Câmara
O silêncio geral em torno de tal declaração do líder da nação (não me refiro a conversar com o Congresso) demonstra ausência de consciência política acerca da importância da leitura para a educação.
Tanto por parte de agentes públicos e da mídia, quanto pelo lado dos influencers.
Essa fala, além de infeliz, demonstra um grave equívoco sobre a importância da leitura e seu papel fundamental no desenvolvimento intelectual e social dos indivíduos.
Senão, vejamos
Os benefícios de ler livros
Primeiro: Leitura e Gestão do Tempo: Uma Questão de Prioridades
A leitura não é um impedimento para a realização de outras atividades. Pelo contrário, ela é uma ferramenta poderosa que nos capacita para otimizar nosso tempo e realizar nossas tarefas com mais eficácia.
Assim, por meio da leitura adquirimos conhecimentos, aprimoramos nossa capacidade de análise crítica e desenvolvemos habilidades de comunicação eficaz.
Isso nos permite tomar decisões mais assertivas, resolver problemas com criatividade e construir relacionamentos mais produtivos, inclusive no âmbito político.
Segundo: Leitura como a Base para o Sucesso em Qualquer Âmbito
Afirmar que ler livros é menos importante do que “conversar com o congresso” é um desserviço à nação.
Portanto, a leitura é a base para o desenvolvimento intelectual, cultural e social de qualquer indivíduo, independentemente de sua profissão ou cargo.
Por meio da leitura expandimos nossos horizontes, adquirimos novas perspectivas e nos tornamos cidadãos mais conscientes e engajados.
Terceiro: Leitura na Formação de Líderes
A fala do Presidente da República demonstra um desprezo pela educação culta e, por conseguinte, pelo desenvolvimento intelectual.
Ao menosprezar a leitura, ele transmite a mensagem de que a busca por conhecimento é irrelevante para o exercício de funções públicas.
Essa postura é nociva e demonstra um grave equívoco sobre o papel da educação na formação de líderes.
Foi um péssimo exemplo para todos os cidadãos. Não obstante, jamais devemos nos deixar influenciar por vozes seculares que ecoam em cavernas assombradas que aprisionam almas, impedindo o progresso intelectual.
Para tanto, temos excelentes livros que nos inspiram a nos apegarmos com amor aos livros. Conheçam três obras fundamentais que enfatizam a importância da leitura para se desenvolver intelectualmente:
Didascalion: A Arte de Ler, de Hugo de São Vitor
Essa obra clássica explora a leitura como um processo ativo de busca por conhecimento e compreensão. São Vitor destaca a importância da leitura para o desenvolvimento da inteligência, da criatividade e do senso crítico.
É um tratado fundamental que aborda a arte da leitura e sua importância na compreensão de uma ampla gama de textos, desde os mais simples até os mais complexos.
São Vitor argumenta que a habilidade de interpretar textos é essencial para o desenvolvimento intelectual e a formação do pensamento crítico.
Ele enfatiza a necessidade de cultivar técnicas de leitura que vão além da decodificação das palavras, incentivando os leitores a mergulharem profundamente no significado e na intenção por trás do texto.
Ao longo do livro, São Vitor oferece orientações práticas sobre como abordar diferentes tipos de texto, incluindo obras literárias, filosóficas e religiosas.
Ele ressalta a importância de ler com atenção, fazer conexões entre diferentes ideias e contextualizar o texto dentro de seu período histórico e cultural.
Por meio de sua obra, São Vitor destaca que a habilidade de interpretar textos de forma crítica e abrangente não apenas enriquece a experiência de leitura, mas também capacita os leitores a se tornarem pensadores mais perspicazes e informados em todas as áreas da vida.
Como Ler Livros, de Mortimer Adler
Este guia prático oferece ferramentas para ler de forma eficaz e crítica. Adler enfatiza a importância de escolher livros adequados aos nossos objetivos, de ler com atenção e de refletir sobre o que lemos.
Assim, trata-se de um guia essencial para desenvolver habilidades de leitura crítica e aproveitar ao máximo a experiência de leitura.
Adler enfatiza que a leitura é uma habilidade que pode ser aprimorada e que é fundamental em todas as fases da vida.
Ele argumenta que, para realmente entender um livro, é necessário engajamento ativo por parte do leitor, envolvendo-se em um diálogo intelectual com o autor através da análise, questionamento e reflexão.
Adler destaca que a leitura não é apenas um meio de adquirir conhecimento, mas também uma ferramenta para o desenvolvimento pessoal e intelectual contínuo.
Ele argumenta que, ao dominar a arte da leitura crítica, os leitores podem expandir seus horizontes, aprimorar suas habilidades de pensamento e tomar decisões mais informadas em todas as áreas da vida.
Portanto, “Como Ler Livros” ressalta a importância de cultivar uma prática de leitura ativa e constante, independentemente da idade ou estágio de vida, como um caminho para o crescimento e o enriquecimento pessoal.
O Infinito em um Junco: A Invenção dos Livros no Mundo Antigo, de Irene Vallejo
Esta obra oferece uma jornada fascinante pela história dos livros desde os primórdios da civilização até a era antiga.
Assim sendo, Vallejo destaca a importância da invenção da escrita e sua evolução para a forma de livros como os conhecemos hoje.
Ela explora como as primeiras formas de registro, como tabuletas de argila na Mesopotâmia e papiros no Egito, deram origem à disseminação do conhecimento e ao desenvolvimento cultural das sociedades antigas.
Ao longo do livro, Vallejo mergulha nos detalhes da produção de livros no Mundo Antigo, desde o processo de escrita e cópia até a preservação e disseminação dos textos.
Ela destaca como os livros se tornaram símbolos de poder e sabedoria, influenciando não apenas a cultura, mas também a política e a religião das civilizações antigas.
A autora também aborda o papel dos escribas e bibliotecários na preservação do conhecimento e na transmissão de histórias e ideias através das gerações.
Em última análise, “O Infinito em um Junco” nos lembra da importância fundamental da leitura para o desenvolvimento intelectual e cultural da humanidade.
Ao explorar as origens dos livros e sua influência ao longo da história, Vallejo destaca como a capacidade de ler e acessar informações é essencial para o progresso e a evolução da sociedade.
A leitura não apenas nos conecta ao passado, mas também nos capacita a compreender o mundo ao nosso redor e a imaginar novos horizontes, alimentando nossa curiosidade e criatividade.
Dia do Livro e a leitura como Pilar do Progresso
O desenvolvimento da leitura é fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e próspera.
Por intermédio da leitura, os indivíduos podem aprimorar suas habilidades de comunicação, pensamento crítico e resolução de problemas.
Isso os torna mais aptos a participar da vida pública, a defender seus direitos e a contribuir para o desenvolvimento do país.
A leitura é um pilar fundamental para o desenvolvimento individual e social. Por meio da leitura, adquirimos conhecimentos, aprimoramos nossas habilidades e construímos uma visão de mundo mais ampla e abrangente.
Assim, desvalorizar a leitura, como fez o Presidente da República, é um retrocesso que nos afasta do progresso e do desenvolvimento social.
Dessa feita, só poderíamos sugerir ao ministro que encontre tempo suficiente para continuar a ler livros! Isso o capacitará continuamente para “conversar mais com o Congresso”.
Da mesma forma, para os cidadãos comuns, jamais deixem de ler livros!
Afinal, deixar de ler livros estabelece um parâmetro irreversível para a burrice coletiva.
Não à toa os índices de analfabetismo funcional criaram a terrível realidade do Brasil iletrado.
