Para identificar a forma literária de uma obra importante como do livro de Gênesis, ou de um bom texto, deve-se observar vários detalhes.
Assim, começando pela obra em si, sua importância histórica e transcendental, e pelo autor, sua relação com a obra e o contexto histórico envolvido.
O Livro de Gênesis é o primeiro livro do Antigo Testamento e, portanto, é o primeiro dos cinco livros que compõem o Pentateuco.
O Pentateuco é o conjunto dos cinco primeiros livros do Antigo Testamento composto por Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
Esses cinco livros também compõem a Torá Judaica. Na tradição oral de transmissão da Torá têm-se o Talmud, que foi compilado para explicar a Torá escrita.
Como parte dos extensos estudos judaicos sobre a Torá escrita, aprofundam o conhecimento místico por meio do Talmud com o Zohar e a Cabalá.
Autor do Livro de Gênesis
No Antigo Testamento há indicações claras de que foi Moisés quem escreveu os cinco primeiros livros, por inspiração e revelações divinas.
Convém registrar que nesse período existia a prática de tradições orais, sendo certo para os judeus que Moisés recebeu a Torá escrita e a Torá oral.
Assim, as passagens que confirmam a autoria do Pentateuco estão em Êxodos 17.14, Números 33.1, Deuteronômio 31.9 e 2Reis 21.8.
Segundo a teoria documentária sobre manuscritos antigos, quanto mais cópias do original forem encontradas, maiores as chances de atestar sua veracidade.
Portanto, podemos comparar as cópias dos manuscritos mais antigos e importantes com as cópias dos livros do Antigo Testamento:
- Obra de Aristóteles = 5 cópias;
- Obra de Platão = 7 cópias;
- Obras de Sófocles = 100 cópias;
- Antigo Testamento = 220 cópias, com destaques para o Livro de Salmos, com 36 cópias, Deuteronômio, com 32, e Gênesis, com 23 cópias.
Análise Literária do Livro de Gênesis
O livro de Gênesis possui 50 capítulos em que predomina o estilo narrativo em prosa, com abordagens pontuais em verso, como na bênção de Jacó e no relato da torre de Babel.
Em suma, o livro trata da criação do Universo e do homem. Aborda, posteriormente, a primeira Aliança feita entre o Criador e Abraão, que se estendeu por meio das linhagens patriarcais de Isaque e Jacó.
O estilo literário empregado por Moisés se destaca em relatar, primeiramente, as gerações que se afastaram do Criador, para depois abordar a genealogia daqueles que cumpriram a Aliança.
Dessa forma, ressalta-se a louvável unidade de composição, em que a linhagem de
- Caim (4.27-24) antecede a de Sete (4.25, 26);
- Jafé e Cã (10.1-8) precede a de Sem (10.21, 22);
- Ismael (25.12-15) é anterior à de Isaque (25.19);
- Esaú (36.1-10) vem antes de Jacó (37.2).
Em suma, a forma, o conteúdo e o estilo literário de Moisés são impecáveis em sua composição narrativa no livro de Gênesis.
Veremos, a seguir, a indelével marca do Criador em seu relacionamento com o povo hebreu.
Característica Literária dos números no Livro de Gênesis
Sem considerar os significados místicos da numerologia encontrada no livro de Gênesis, destacamos a predominância dos números sete e seus múltiplos, dez e doze.
Dessa forma, a característica literária da numerologia ressalta sua importância, seja no contexto místico, seja na demonstração histórica dos fatos.
- A semana de 7 dias, representando o total dos dias dedicados à Criação somado ao descanso semanal;
- As 7 gerações de Caim;
- Os 7 anos de abundância e 7 anos de escassez;
- Os 70 descendentes de Noé;
- Os 70 descendentes de Jacó que foram para o Egito;
- As 10 gerações de Adão até Noé;
- As 10 gerações de Noé até Abraão;
- Os 12 príncipes que precederam de Ismael;
- Os 12 patriarcas que precederam de Jacó e que compõem as 12 tribos de Israel.
Ressalte-se que a numerologia ora descrita permeia os demais livros do Antigo Testamento.
Educação Literária na Interpretação das Escrituras Sagradas
Esta é uma pequena demonstração da importância da educação literária para interpretar as Escrituras Sagradas.
Agostinho afirmou que uma pessoa sem educação literária não está preparada para essa jornada.
Para se ter uma ideia, uma análise literária mais robusta do Livro de Gênesis abordaria:
- O estilo da prosa, com ritmo e paralelismo, no capítulo 1;
- A presença de quiasma e estrutura espelhada ricamente elaboradas no capítulo 11;
- Os exemplos de paronomásia e trocadilhos;
- A teologia do Livro de Gênesis.
Em suma, a reflexão que podemos extrair do Livro de Gênesis é a de que:
A eleição e separação de Israel como povo pactual de Deus deram-se em um contexto de conflito entre o propósito benevolente do Criador e a vontade rebelde das criaturas, a quem Ele pune em justiça e restaura em amor. Carlos Osvaldo C. Pinto
